Maria Arménia Madail da Silva - 2015
Naquele quarto cheio de uma penumbra que se fazia permanecer há já dois dias, Cármen
respirou os odores entranhados na sua pele. Sentou-se no meio da cama e começou
a calçar as meias de vidro, numa languidez sonâmbula. O braço direito
dirigiu-se à nuca, cerrou as pálpebras e sentiu, de novo, o perfume almiscarado
e a sua mente recuou.
Há anos que sonhava com aquele encontro, seria o encontro
da sua vida. Ele tinha anuído no dia em que a encontrou, casualmente, na
avenida Oudinout, Já não se viam desde o tempo da faculdade. Ambos tinham
seguido o seu caminho.
O encontro que começou por ser formal passou, passados uns
minutos, a ser um encontro de loucuras lascivas e beijaram-se sem nada dizerem.
Aconteceu. E queriam ir mais longe.
E há dois dias que se haviam fechado naquele quarto de hotel e se tinham
amado. Desde a rapidez do tirar das roupas, ao impulso de uma necessidade ávida
de se tatearem até ao orgasmo apressado – a primeira vez. Depois foi um
descobrir de um e de outro. As bocas minguavam as suas línguas, as mãos
procuravam sítios desconhecidos, os corpos molhados entrelaçavam-se como ramos
fustigados por tempestades. A respiração era entrecortada por sons de prazer e o quarto cheio de penumbra era a
única testemunha deste encontro.
Calçou um sapato e depois o outro. Sorriu. Olhou o espelho
e a sua imagem refletiu um esgar de tristeza. Uma sombra pairou sobre o seu
semblante. Desviou o olhar do espelho, vestiu-se e saiu apressadamente daquele
lugar. Atabalhoadamente remexeu na carteira e tirou as chaves do carro e acelerou
até àquela praia onde se sentia em harmonia.
Deixou-se ficar no carro a olhar no vazio daquele imenso
horizonte onde o sol pálido ia descaindo. As lágrimas caíram-lhe.
Ela suspirou . Anos a sonhar com aquele encontro. Encontro
que nunca aconteceu.
Amor platónico?
Sem comentários:
Enviar um comentário