quarta-feira, 12 de agosto de 2015


Maria Arménia Madail da Silva - 2015

Naquele quarto cheio de uma  penumbra que se fazia permanecer há já dois dias, Cármen respirou os odores entranhados na sua pele. Sentou-se no meio da cama e começou a calçar as meias de vidro, numa languidez sonâmbula. O braço direito dirigiu-se à nuca, cerrou as pálpebras e sentiu, de novo, o perfume almiscarado e a sua mente recuou.
Há anos que sonhava com aquele encontro, seria o encontro da sua vida. Ele tinha anuído no dia em que a encontrou, casualmente, na avenida Oudinout, Já não se viam desde o tempo da faculdade. Ambos tinham seguido o seu caminho.
O encontro que começou por ser formal passou, passados uns minutos, a ser um encontro de loucuras lascivas e beijaram-se sem nada dizerem. Aconteceu. E queriam ir mais longe.  E há dois dias que se haviam fechado naquele quarto de hotel e se tinham amado. Desde a rapidez do tirar das roupas, ao impulso de uma necessidade ávida de se tatearem até ao orgasmo apressado – a primeira vez. Depois foi um descobrir de um e de outro. As bocas minguavam as suas línguas, as mãos procuravam sítios desconhecidos, os corpos molhados entrelaçavam-se como ramos fustigados por tempestades. A respiração era entrecortada por sons de prazer  e o quarto cheio de penumbra era a única testemunha deste encontro.
Calçou um sapato e depois o outro. Sorriu. Olhou o espelho e a sua imagem refletiu um esgar de tristeza. Uma sombra pairou sobre o seu semblante. Desviou o olhar do espelho, vestiu-se e saiu apressadamente daquele lugar. Atabalhoadamente remexeu na carteira e tirou as chaves do carro e acelerou até àquela praia onde se sentia em harmonia.
Deixou-se ficar no carro a olhar no vazio daquele imenso horizonte onde o sol pálido ia descaindo. As lágrimas caíram-lhe.
Ela suspirou . Anos a sonhar com aquele encontro. Encontro que nunca aconteceu.
Amor platónico?

Sem comentários:

Enviar um comentário