Um
sono alvoroçado com intermitências
de salpicos de chuva e melodias. Petra
sentiu
o seu corpo sair de si. A silhueta
do dono do casaco e do chapéu ondulava em passo artístico em direção a uma mulher que se lhe insinuava
na penumbra.
O
esforço dos músicos – que tocavam há mais de três dias – começava a fraquejar,
mas de súbito curvaram-se ante a cena.
A
mulher - cuja sombra se refletia na parede do prédio - baloiçava os braços em
torno do corpo; as pernas entreabriam-se num gemido faminto e a silhueta entrou
a seu pedido. A música despertou e em tons silenciosos foi acompanhando aquela
dança na expectativa de saborear o momento de um coito turbulento, exímio.
Os
tons silenciosos misturaram-se em tons graves a agudos. A mulher e a silhueta envolviam as suas formas numa só –
encaixavam-se. Os sussurros - cada vez mais altos e comprimidos – esfaqueavam o
silêncio da noite. Os corpos, molhados e exaustos pela luxúria da música,
separaram-se no momento do clímax: o último grito, a última nota.