Coloquei saia e casaco cor púrpura a seguir a uma blusa de seda
imaculadamente branca. Olhei-me no espelho dando um toque no cabelo que se
desalinhara e retoquei, com bâton,
a linha correta dos lábios que me realçou a minha feminilidade. Dirigi-me ao
elevador e entrei no carro a caminho do Sheraton, onde começava o turno da
tarde, depois de umas reconfortantes férias.
Roma era uma cidade de encantos e recantos românticos e sentia-me
sempre bem em voltar a casa.
O frenesim do telefone (re)começou; os hóspedes não paravam de
chegar; as crianças lançavam no ar gargalhadas...
Triiiiiiiiiiim...Triiiiiiiiiiiiiim...
-Estou, sim. Hotel Sheraton, boa tarde!
- Quarto 505. Quando é que trazem a champagne pedida há cinco minutos?
“Quarto 505? Há cinco minutos? Quem será que está tão frenético
que não pode esperar?
Verifiquei na plataforma o utente e...meu Deus! A banda de rock...
a melhor banda do momento está hospedada na suite 505...”
- Um
momento, por favor. Ser-lhe-á enviada imediatamente. Peço desculpa pelo atraso.
-
Trimmmmmm...
- Hotel
Sheraton, boa tarde! (...)
- 505, novamente.
Queríamos uma toalha de banho, uns chinelos de quarto cor de rosa, e espuma de banho.
- (...?...)
Sim. Enviarei imediatamente.
- Hotel Sheraton, boa tarde! (...)
Uma voz estridente fez-se ouvir do outro lado do telefone.
-
Quero uma limousine para nos levar ao centro da cidade, máscara venezianas,
casacos de vison... Sairemos assim
que nos entregarem o pedido.
-
Tentarei satisfazer o seu pedido. As máscaras venezianas, poderão ser substituídas por máscaras romanas?
-
Claro que não! Têm de ser de
Veneza.
-Terá
de compreender que é deveras um pedido demasiado bizarro..., mas tentarei
satisfazê-lo.
Desliguei.
Estava irritada com tais exigências. Pedi ao meu colega que me substituísse e
tratei de ser eu mesma a recolher todos os “desejos” daquela banda louca.
Bati
na porta da suite 505; entreguei um pacote embrulhado em papel de manteiga com
um laço feito de cordel.
-
O seu pedido. O veículo está estacionado na frente do hotel. Quando quiser é só
descer. E não admito reclamações – disse com voz melada a tender para
malcriada.
A
banda desceu. As máscaras de papel
recortado de revistas e os casacos multicolores adquiridos nos perdidos e achados
do hotel fizeram a diferença. Ninguém reparou que estava a sair a melhor banda
de rock do momento. O Fiat seiscentos que os esperava arrancou e mais tarde o
espetáculo começou.
Excentricidades!
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