domingo, 20 de abril de 2014


Um sono  alvoroçado com intermitências de salpicos de chuva e melodias. Petra
sentiu o seu corpo sair de si.  A silhueta do dono do casaco e do chapéu ondulava em passo artístico em  direção a uma mulher que se lhe insinuava na penumbra.
O esforço dos músicos – que tocavam há mais de três dias – começava a fraquejar, mas de súbito curvaram-se ante a cena.
A mulher - cuja sombra se refletia na parede do prédio - baloiçava os braços em torno do corpo; as pernas entreabriam-se num gemido faminto e a silhueta entrou a seu pedido. A música despertou e em tons silenciosos foi acompanhando aquela dança na expectativa de saborear o momento de um coito turbulento, exímio.
Os tons silenciosos misturaram-se em tons graves a agudos. A mulher e a silhueta  envolviam as suas formas numa só – encaixavam-se. Os sussurros - cada vez mais altos e comprimidos – esfaqueavam o silêncio da noite. Os corpos, molhados e exaustos pela luxúria da música, separaram-se no momento do clímax: o último grito, a última nota.

(continuação do conto "A estranha vida de Petra)
Petra-Jordan Photos- National Geographic

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