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Ainda estou no lugar etéreo em que o relógio precisa de corda? Não? Corda é
o que tem aquele instrumento musical que ondula na minha frente; a prancha
esbranquiçada que se ri do meu salto insinua-se à água azulada da piscina onde
eu espero que me venham recolher!
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Mas que vês desse azul incolor?
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Areias que se baloiçam; areias que se dirigem ao
fundo; areias que entram e saem do meu corpo: sentes? As sombras refletem-se no
líquido, as sombras dos contornos de uma guitarra, os repuxos que se atiram
desgarrados e, aquela escada do lado direito...lembras-te?
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Como poderia esquecer? Foi por ela que subiu
aquela que me disse sim e a quem eu disse sim, também...
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-Que melancolia! Por que está deserta esta
piscina?
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Melancolia? Não. Sinto-me um herói, destemido e
corajoso, um mártir do amor. Os três guarda- sóis resguardam as cadeiras do
calor que eu exalo, que eu sonho. As quatro chaises longues estão despidas e
dormitam do meu lado esquerdo.
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Estás de partida! Vais embora?
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Não sei para onde vou. Este lugar está vedado e
tento sair pelas escadas do lado direito, mas as cordas flutuam
comigo...entrelaçam-me, amordaçam-me e não consigo recomeçar: o relógio parou e
a guitarra iniciou o choro.
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