quinta-feira, 13 de março de 2014


-       Ainda estou no lugar etéreo em que  o relógio precisa de corda? Não? Corda é o que tem aquele instrumento musical que ondula na minha frente; a prancha esbranquiçada que se ri do meu salto insinua-se à água azulada da piscina onde eu espero que me venham recolher!
-       Mas que vês desse azul incolor?
-       Areias que se baloiçam; areias que se dirigem ao fundo; areias que entram e saem do meu corpo: sentes? As sombras refletem-se no líquido, as sombras dos contornos de uma guitarra, os repuxos que se atiram desgarrados e, aquela escada do lado direito...lembras-te?
-       Como poderia esquecer? Foi por ela que subiu aquela que me disse sim e a quem eu disse sim, também...
-       -Que melancolia! Por que está deserta esta piscina?
-       Melancolia? Não. Sinto-me um herói, destemido e corajoso, um mártir do amor. Os três guarda- sóis resguardam as cadeiras do calor que eu exalo, que eu sonho. As quatro chaises longues estão despidas e dormitam do meu lado esquerdo.
-       Estás de partida! Vais embora?
-       Não sei para onde vou. Este lugar está vedado e tento sair pelas escadas do lado direito, mas as cordas flutuam comigo...entrelaçam-me, amordaçam-me e não consigo recomeçar: o relógio parou e a guitarra iniciou o choro.

Sem comentários:

Enviar um comentário