sábado, 15 de março de 2014

A terra remexera-se pela quarta vez. A fúria daquele tremor  arrastava tudo o que mexia, mas com um cuidado maternal: tinha que estar naquela ilha.
No imenso horizonte vislumbravam-se uns olhos ofuscantes, atentos à passagem de quem procura desesperadamente, entre ruínas e devastidão, um bem precioso. A corrida galopante e desenfreada continuou durante a noite e,  ferido no seu âmago, insistiu – mais uma vez – no desenterrar dos sentimentos: cravou as garras nas entranhas do solo, arrancou árvores, revolveu águas, vociferou sons indecifráveis... a loucura estava a apoderar-se dele e os olhos ocultos continuavam a seguir, atentamente, aquele farrapo  que tentava a todo o custo encontrar...encontrar. As forças extenuantes deixaram cair aquele ser corpulento levando a um quinto tremor e a um adormecimento intermitente. Ao desabrochar do dia -  quando a chuva limpou o odor da raiva e os olhos ofuscantes desapareceram, o urso bebé aconchegou-se à mãe.


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