Uma brisa subiu-lhe até à cúspide
do corpo. A vida escorregava-lhe
pelo corpo abaixo e abandonava-a – como a sombra que deixou pra trás esse corpo
– e ficou na mais perfeita solidão.
Joana relembrou aquela
memória da juventude que, inesperadamente, lhe entrara pela vida adentro umas
horas antes: aquele respirar ofegante - o dia em que o beijo inocente dos seus dez anos mudou por
completo a sua vida. Casara com
João : pensava em Luís!
Quando Antero - agora com dezoito
anos – entrou na penumbra da sala, Joana sentiu uma culpa dolorosa. Os olhos verdes
de Antero emanavam o verde daquela tarde insaciável : o passeio com Luís; o
desabrochar de uma flor -
indecisa: avançar ou recuar? Este filho, de estatura atlética, de ar
doce não a deixa esquecer. A dor
aperta-lhe o coração e a voz sai-lhe sumida:
-Esquece o que perguntei, filho.
As violetas entontecem-me: o cheiro impregna-se na minha pele; nos meus
sentidos e leva-me ao passado.
As mãos carinhosas de Antero pousaram nos cabelos de Joana e
afagaram-nos:
-
Mãe, que te
atormenta? O pai já partiu há muito: lembras-te? Que segredo guarda a carta que
tanto esmagas - no peito?
Sem comentários:
Enviar um comentário